Por Elisa Santana
Conteúdo publicado pela Escola Sol Dourado Jardim Waldorf
O outono nos leva para dentro de nós mesmos. A mudança de clima lá fora mexe muito com a gente por dentro. Outro dia, me peguei arrumando gavetas e tirando as cortinas para lavar. O que seria um procedimento normal, pois arrumar a casa é coisa cotidiana, me chamou a atenção porque percebi a chegada da nova estação. O sol já mudou de lugar na minha janela, as manhãs começam a ficar mais frescas. O processo outonal começou. E o que tem isso com arrumar gavetas e lavar cortinas?
A mudança de clima lá fora mexe muito com a gente por dentro. Coisas que talvez a maioria das pessoas não perceba. Mas eu, tão ligada à natureza e à antroposofia – ciência que, para além da matéria, estuda o humano através da sua história natural e mítica – não consigo deixar passar despercebidos os movimentos da natureza. Percebo mais o tempo passando ao observar a mudança das estações lá fora, do que ao me observar no espelho.
A minha sogra me dizia que a mulher depois dos 50 envelhece fisicamente de cinco em cinco anos. Será? Não parei para buscar a verdade da observação dela e saber se faz mesmo sentido. Até porque, dependendo da vida que se leva ou dos acontecimentos, pode-se envelhecer da noite par o dia. Quem não conhece a história clássica de Maria Antonieta, a rainha da França, que sob o estresse da notícia de sua morte iminente na guilhotina, acordou no outro dia de cabelos inteiramente brancos?
O que entendo é que perceber as mudanças “de fora” e ligá-las às “ de dentro” torna a entrada mais suave. Mas qual entrada? No outono, começamos a entrar mais para dentro de nós mesmos. É quase imperceptível este caminho.
Assim como as árvores, cuja seiva nesta época é guardada no caule para poupar os esforços e desgastes de calor, o corpo humano também segue estas normas. Repare como nossos cabelos caem mais e ficam mais secos. E nossa pele mais áspera no outono-inverno. Não é só uma questão de beber mais água. É que todo o nosso metabolismo muda.
Então, devemos tomar líquido em forma de chás gostosos, caldos, sopas, tudo quentinho, para ajudar nosso organismo a fazer a passagem do verão para o outono.
O sol se distancia da terra e daí devemos cuidar dos pés que, mais próximos do chão, pegam “friagem”, como diziam os antigos. Crianças, jovens, adultos e velhos precisam ter estes cuidados. Coisa difícil nestes tempos em que as pessoas estão muito “para fora” e, no outono, “se esquecem de entrar”. E não “ouvem” o tempo. Continuam se resfriando e nem se dão conta de que o corpo, apesar de um “certo calor”, está frio. O próprio nome diz, “resfriamento” – é o interior do corpo que não está recebendo os devidos cuidados.
Se o sol quente traz o Yang, no outono-inverno o frio traz o Yin, tipicamente feminino. As culturas pagãs e a cultura popular sabiam e sabem disso. A igreja católica se apropriou destes saberes e os associou ao mês de Maria, mês das noivas. Não por acaso o dia das mães é no mês de maio. Aparece aí a figura da Nossa senhora como a grande mãe, de manto azul (quentinho). É uma sabedoria invocar nesta época a figura da grande mãe cósmica protetora. Ela acolhe e protege do “frio” interno.
Outono e inverno são tempos de se preparar para ficar mais consigo mesmo. O que nem sempre é fácil, mas necessário. E aí, eu faço a ligação: casa é simbolicamente a representação do meu interior. Eu me vi arrumando gavetas e lavando cortinas, com o seguinte pensamento: se vou passar mais tempo comigo em casa (meu interior), é melhor que ela esteja limpa e agradavelmente confortável, para que eu me sinta aconchegada em mim mesma, para enfrentar o outono, que já chegou. E o inverno, que logo se seguirá.